Data: 25-11-2011

De: Creoni

Assunto: Quatro anos de Saudades

Quatro anos de dor e descaso.

No dia 06 de dezembro de 2011, estará completando quatro anos desde a morte do meu filho Everson, um jovem de apenas 16 anos que teria, pelas suas características pessoais, um futuro maravilhoso. Um jovem com apurado senso esportista. Muito humilde, buscava alcançar seus objetivos usando o seu esforço pessoal. Além disso, a flexibilidade e a sensibilidade estavam sempre presentes em suas ações o que o tornavam diferente dentre tantos outros jovens de mesma idade.
Mas sua trajetória foi interrompida na noite de06 de dezembro de 2007, quando estava em companhia de seu “amigo” Rafael Scarsi, um tiro certeiro tirou sua vida. “Rafael ou Giovani”, qual dos dois acionaram o gatilho? Pergunta que não quer calar.
Descobri que nenhuma dor pode superar a dor da perda de um filho, especialmente se, como o Everson, encontrar-se em pleno vigor de sua juventude. Sinto-me "amputada" diante dessa perda, afinal, é alguém que coloquei no mundo e acompanhei para que se tornasse um homem de bem, um homem honrado. Mas no momento em que eu me preparava para desfrutar disso, quando se preparava para ser um grande goleiro, vem o “amigo” e lhe tira a vida. Tirou, na verdade, boa parte da minha própria vida. Sonhos foram desfeitos, planos ficaram inacabados, projetos de vida precisaram ser esquecidos.
Meu filho Everson, foi assassinado a sangue frio. Os algozes, até hoje continuam livres, quem sabe fazendo novas vítimas. Passaram-se 48 meses. Os assassinos foram premiados pelo instituto da Impunidade, consagrado pelo descaso das autoridades responsáveis pela elucidação dos crimes contra a vida humana.
O assassinato do meu filho Everson foi tratado por essas autoridades simplesmente como mais um número na enorme estatística dos crimes insolúveis. Uma conduta irresponsável daqueles que tem o dever, a obrigação constitucional de dar o máximo de si em prol da sociedade, razão pela qual percebem seus salários.
Procurei, por dezenas de vezes, tentar entender o que aconteceu, junto com as autoridades. Trataram-me com descaso, talvez por não ser detentor de um grande número de votos, ou porque sou uma cidadã de bem, porque sou uma Mãe inconsolável, a julgar pela forma como transcorreram as investigações, cujo resultado foi desatroso. Ou seja, pouco foi feito para elucidar o caso e até hoje, decorridos 1.485 dias, não sei o que efetivamente ocorreu naquela noite trágica. O sentimento que fica é que essas autoridades têm coisas muito mais importantes a resolver do que buscar a identificação dos assassinos do Everson e levá-los a justiça.
Essas autoridades me devem explicações. Me devem esclarecimentos. Me devem respeito!
Nem preciso dizer que minha vida simplesmente se transformou num imenso abismo. O vazio se fez presente em minha vida. A dor revelou-se presença constante no meu dia a dia. É a dor da saudade! Saudades do Everson, do abraço dele, de ouvi-lo dizer "oi mãe, oi véia", Sabe mãe eu Te amo, você é a melhor mãe do mundo, palavras que jamais voltarei a ouvir, tudo por causa de um louco.
É a dor de quem consegue ter uma imagem de como seria a vida hoje com a presença do Everson, uma pessoa tão simples, que não tinha desafetos.Tinha somente amor no coração e suas ações eram marcadas pela humildade e pelo bem-servir.
Deus tem me dado forças para seguir em frente. Agradeço diariamente a Ele por ter-me concedido a bênção de conviver com o Everson os 16 anos, 10 meses em que só me trouxe orgulho.
Ao contrário do que muitos podem pensar, não desejo vingança. Mas é latente o meu sentimento de Justiça. Devo isso ao Everson. Não descansarei até que as autoridades competentes cumpram com suas obrigações legais e identifiquem os executores e/ou mandantes que assassinaram meu filho Everson, para que sejam encaminhados à Justiça dos homem e paguem pelo crime cometido.
É inadmissível e inaceitável que nos anos em que vivemos, com sofisticadas técnicas para se obter informações, que estão à disposição das autoridades constituídas, não seja possível identificar o autor de um assassinato. Isso só acontece quando há um odioso descaso, quem sabe até porque meu filho Everson não tinha familiares nos altos escalões do Governo, ou até mesmo porque não gostava de batuque, umbanda... Caso contrário, certamente os criminosos ou mandantes já estariam nas mãos da Justiça.
Estou aqui cumprindo o meu dever de Mãe. Nada trará meu filho Everson de volta, Eu sei. Entretanto, afirmo a toda sociedade, ninguém irá calar minha voz, pois estarei cobrando dessas autoridades (em todos os níveis) o fim do descaso, e que cumpram com suas obrigações, identificando quem matou meu filho Everson.
Farei isso enquanto houver um sopro de vida em meu corpo. É pelo Everson e por outros tantos pais que continuam sem saber quem assassinou seus filhos, que estou decidida a seguir em frente, até que a Justiça seja feita.
Estou, reafirmo, exercendo o meu direito de Mãe, esquecido por essas autoridades, que preferem os holofotes a trabalhar duro para desvendar um crime como este.
Incrivelmente doloroso e lamentável!

Creoni, Mãe do Everson.
Quando morrem os pais, perde-se o passado, mas quando morre um filho perde-se o futuro.....

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